Jorge Amado e civilização cacaueira
são tema de debate da Flica 2012
A região cacaueira
e a efervescência econômica e cultural do sul da Bahia retratadas pelas obras
de Jorge Amado foram o foco de um debate na Festa Literária Internacional de
Cachoeira (Flica). Mediada pelo ator e apresentador Jackson Costa, o debate
'Jorge Amado e os contextos de Terras do Sem Fim e Gabriela' contou com a
participação da professora americana de história Mary Ann Mahony e do
jornalista paulista, radicado em Itabuna há 25 anos, Daniel Thame. O fato de
ambos serem “de fora” foi encarado pelo mediador da mesa, natural de Itabuna,
como algo relevante para a discussão. “Às vezes, o olhar estrangeiro nos vê
melhor do que a nós mesmos”, definiu. Antes do debate, a programação foi
aberta, às 10h, com a entrega de kits educativos para escolas da rede municipal
de Cachoeira. Os conjuntos contêm material pedagógico sobre a vida e obra de
Jorge Amado e Zélia Gattai.
Os participantes
começaram a discussão contando como se interessaram pelos estudos da região sul
Bahia, pela temática do cacau e as obras de Jorge Amado. Após anos de estudo
sobre a história da América Latina e do Brasil e aulas de português, Mary Ann
contou que seu primeiro contato com o autor foi através do livro "Cacau".
Já Daniel Thame disse que foi para Itabuna a trabalho para ficar apenas um ano.
“Esse um ano se transformou em 25 anos. Itabuna tem esse poder de acolher as
pessoas e elas não quererem sair mais. Eu conheço muita gente que chegou para
ficar lá por pouco tempo e não saiu mais”, declarou.
Estórias para contar a História
Dentre os acontecimentos históricos que ajudaram a criar 'Terras do Sem Fim' , Mary Ann aponta que Jorge Amado usou o seu local de nascimento como exemplo para falar de muitos problemas que via no Brasil e na América Latina. “Jorge Amado era romancista e político. Ele usava seus romances para entrar em debates que lhe interessavam. Ele utilizava estórias para contar a História”, avaliou a historiadora.
Dentre os acontecimentos históricos que ajudaram a criar 'Terras do Sem Fim' , Mary Ann aponta que Jorge Amado usou o seu local de nascimento como exemplo para falar de muitos problemas que via no Brasil e na América Latina. “Jorge Amado era romancista e político. Ele usava seus romances para entrar em debates que lhe interessavam. Ele utilizava estórias para contar a História”, avaliou a historiadora.
Thame reforçou o
argumento de Mary Ann ao comentar, em tom de brincadeira, que ser amigo de
Jorge Amado era um certo problema pois as pessoas se viam nas histórias dele,
mas não exatamente como elas gostariam. Sobre 'Gabriela', apontou o jornalista,
muita gente em Ilhéus não gostou de como foi retratada pelo autor, já que a
obra é aborda o comportamento da mulher e seu processo de emancipação. Houve
hostilidade ao autor no período de lançamento da obra. "O livro mostra a
mulher se libertando das amarras impostas na época. A sociedade em Ilhéus era
muito fechada, conservadora, ao contrário de Itabuna. Até hoje lá ainda é um
pouco assim, existe essa diferença”, completou. Segundo Thame, Jorge Amado só
revelou publicamente que era natural de Itabuna em uma entrevista, após
consagrado por suas obras. “Ele preferia dizer 'sou grapiúna das terras do
cacau' ”, citou.
Relações de poder
Os participantes do debate também discutiram as relações de poder abordadas nas obras de Jorge Amado como um fiel retrato da sociedade da região cacaueira no auge do seu poder econômico. O papel e o comportamento dos coronéis foi um dos focos da discussão. “Era uma terra na qual o poder se dividia pelas terras de cacau. Quem conquistasse aquele pedaço de terra, seria o rei do cacau. Foi uma luta por poder e por dinheiro”, apontou Thame.
Os participantes do debate também discutiram as relações de poder abordadas nas obras de Jorge Amado como um fiel retrato da sociedade da região cacaueira no auge do seu poder econômico. O papel e o comportamento dos coronéis foi um dos focos da discussão. “Era uma terra na qual o poder se dividia pelas terras de cacau. Quem conquistasse aquele pedaço de terra, seria o rei do cacau. Foi uma luta por poder e por dinheiro”, apontou Thame.
O jornalista
também falou sobre as raízes culturais desses coronéis, a maioria deles
caracterizados pelo autor baiano como homens que carregam cicatrizes nas mãos e
nos pés por terem trabalhado na terra. “A primeira geração do cacau precisou trabalhar
na terra. Mesmo o tropeiro que vira coronel, ele renega as raízes. É o caso de
Horácio [em Terras do Sem Fim] . Quando ele vira coronel, ele se transforma em
alguém tão ou mais cruel que os outros coronéis. Já a segunda e a terceira
geração não precisaram ir para a terra, e isso Jorge Amado retrata no livro”.
Decadência
A efervescência cultural e literária da região estava fortemente ligada ao poder econômico, destacou Daniel Thame. Por isso, quando o império do cacau chegou ao fim, por volta do ano de 1989 com a chegada da vassoura-de-bruxa, a região foi afetada não apenas economicamente. Daniel Thame, que testemunhou o período áureo do cacau na região e também o seu declínio, fala sobre o momento: “As pessoas sabiam que a praga viria, mas ninguém sabia que a produção cairia 80%. Ninguém sabia que seria nessa proporção. As crises eram cíclicas, mas nada como aquilo. Ela foi muito devastadora, não deu tempo de se preparar”, explicou. E acrescentou: “Se Gabriel Garcia Marquez viveu para contar, Jorge Amado não viveu isso para contar essa tragédia de proporções bíblicas que só seria transposta para a literatura em ´Vassoura´, livro que narra as tragédias pessoas e coletivas geradas pela vassoura-de-bruxa”.
A efervescência cultural e literária da região estava fortemente ligada ao poder econômico, destacou Daniel Thame. Por isso, quando o império do cacau chegou ao fim, por volta do ano de 1989 com a chegada da vassoura-de-bruxa, a região foi afetada não apenas economicamente. Daniel Thame, que testemunhou o período áureo do cacau na região e também o seu declínio, fala sobre o momento: “As pessoas sabiam que a praga viria, mas ninguém sabia que a produção cairia 80%. Ninguém sabia que seria nessa proporção. As crises eram cíclicas, mas nada como aquilo. Ela foi muito devastadora, não deu tempo de se preparar”, explicou. E acrescentou: “Se Gabriel Garcia Marquez viveu para contar, Jorge Amado não viveu isso para contar essa tragédia de proporções bíblicas que só seria transposta para a literatura em ´Vassoura´, livro que narra as tragédias pessoas e coletivas geradas pela vassoura-de-bruxa”.
(texto Ida
Sandis/G1)
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